Potências

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Você já deve ter ouvido a expressão “Julho das Pretas” e ela faz referência ao dia 25 de julho, que é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Esta data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992, ou seja, está completando 30 anos. É uma data importante para reflexão porque nós, mulheres negras, estamos na base da pirâmide socioeconômica do Brasil e, além da opressão de gênero, enfrentamos o racismo, a violência e a exploração física e econômica. 

Para tornar o mundo um lugar melhor – com mais oportunidades, mais respeito, mais cooperação –, precisamos de um profundo entendimento do valor que é a diversidade. E, nesse sentido, é fundamental olharmos para as mulheres pretas.

O machismo impregnado há séculos na organização das sociedades, nas relações pessoas e nas estruturas econômicas de poder vem estrangulando as nossas melhores oportunidades de desenvolvimento humano.   

Sim, o machismo, a opressão contra as mulheres, muitas vezes somada ao ódio contra as mulheres, é um entrave para o desenvolvimento social e melhor qualidade de vida para todos nós. O patriarcado nos leva a passos rápidos ao fracasso coletivo como humanidade.

Na nossa realidade cotidiana, corrompida pelo machismo e pelo patriarcado, ainda temos que enfrentar todas as consequências nefastas e desprezíveis do racismo. Sem a menor dúvida, o racismo e a nostalgia de um vergonhoso passado escravagista fazem com que a nossa sociedade esteja estagnada, sem forças para reagir, sem energia para evoluir enquanto se dissolve na violência e na intolerância. Basta abrir os jornais, acessar os sites de notícias ou ligar o rádio para perceber isso.   

O ódio contra as mulheres, sobretudo contra as mulheres negras, não é um evento isolado, nada disso. É uma ferramenta de dominação cruel, que foi construída a partir de mentiras, falsas narrativas e violências diversas com o intuito de garantir privilégios, mantendo e reforçando ainda mais a submissão das mulheres.

Quando pedem pra falar de mim – e isso não é tarefa fácil porque, como jornalista, minha habilidade é contar a história dos outros – ressalto sempre que tenho um grande orgulho de cada conquista que tive, porém, com a convicção inabalável que as minhas vitórias não são um exemplo de meritocracia ou simplesmente esforço pessoal ou até mesmo sorte. A minha presença em uma posição executiva e em um espaço acadêmico de produção de pensamento crítico e cultura é, com certeza, um alerta sobre o quanto nós todos perdemos de potencial e talento de tantas e tantas outras mulheres negras que tiveram que abandonar seus sonhos durante suas jornadas de vida.   

É lamentável que a sociedade tenha perdido, conscientemente por determinação do racismo e do machismo, todas as grandes realizações que centenas e milhares de outras mulheres negras, iguais a mim, poderiam ter alcançado.

Hoje, vejo com muita esperança e me sinto tocada pela grandiosidade do poder de união e solidariedade entre as mulheres. Quando uma mulher negra ajuda a outra, seja lá em que nível for, o resultado na luta contra o mecanismo mesquinho de opressão do machismo e do racismo é imediato. Não é apenas uma ofensiva ou uma reação defensiva, mas sim um golpe certeiro que vai contribuir para acabar com a opressão que todas nós sofremos. Porque, enquanto uma mulher negra estiver sendo maltratada, todas as mulheres e toda a sociedade está sendo maltratada.

As posições de poder devem, urgentemente, serem ocupadas por mulheres para que seja desconstruída a lógica da opressão e um novo mecanismo de desenvolvimento social apareça. Estamos em 2022 e o planeta tem uma população cada vez mais próxima de um total de oito bilhões de pessoas. Acabar com a desigualdade e melhorar a qualidade de vida deve ser a agenda principal quando se planeja um futuro viável. 

A geração atual e as próximas gerações já demonstram que essa mudança está acontecendo. Infelizmente, ainda não tão ampla e nem tão rápido como deveria ser, mas já está acontecendo. E como não seria diferente, são as mãos e as mentes de mulheres negras que promovem essas mudanças que apontam para um mundo melhor. Uma sobe e puxa a outra. 


Solange Guimarães

Solange Guimarães

Solange Guimarães é jornalista e tem mais 25 anos de atuação em veículos da grande imprensa e na comunicação corporativa. Especialista em planejamento estratégico de comunicação, gestão de crise de imagem e reputação e relações públicas institucionais, gerencia a comunicação externa do UnitedHealth Brasil Group e anteriormente foi head de comunicação da SulAmérica Seguros por mais de uma década. Na grande imprensa, foi repórter e apresentadora da TV Gazeta, editora assistente do jornal Valor Econômico e da Gazeta Mercantil e editora da revista Forbes Brasil. Graduada em Jornalismo pela PUC-SP, é mestre em Psicologia Social também pela PUC-SP, tem MBA em Comunicação, Finanças e Relações com Investidores pela FIPECAFI e é doutoranda em Economia Política Mundial pela UFABC. É acadêmica da ANSP (Academia Nacional de Seguros e Previdência), diretora da Sou Segura e coautora do livro Mulheres no Seguros (editora Leader).


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