Reforma da Governança Global deve ser iniciada com igualdade de gênero

Reforma da Governança Global deve ser iniciada com igualdade de gênero

Historicamente ocorre no mês de setembro a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) que tem como praxe o discurso inaugural do presidente ou presidenta do Brasil. Desta vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a importância de uma reforma na governança global que dê conta das necessidades do mundo atual. Para ele, organismos internacionais como a própria ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial precisam passar por reformas significativas e isso inclui, logo de cara, o desafio da paridade de gênero e o enfrentamento ao colonialismo. "Várias nações, principalmente no continente africano, estavam sob domínio colonial e não tiveram voz sobre seus objetivos e funcionamento. Inexiste equilíbrio de gênero no exercício das mais altas funções. O cargo de Secretário-Geral [da ONU] jamais foi ocupado por uma mulher”, lembrou.

Algo similar foi dito também na Cúpula do Futuro, em que o presidente disse que uma das responsabilidades dos líderes mundiais é “nunca retroceder”. “Não podemos recuar na promoção da igualdade de gênero, nem na luta contra o racismo e todas as formas de discriminação”.

Igualdade de gênero no G20

Em outra Cúpula internacional, o Grupo dos 20, o Brasil também vem pautando a participação de mulheres na tomada de decisões, a começar pela aprovação de um princípio na Iniciativa sobre Bioeconomia (GIB), uma das propostas inovadoras pela presidência brasileira do G20.

Após nove meses de debates, a GIB estabeleceu os 10 princípios de Alto Nível sobre Bioeconomia, entre eles o compromisso de ser “inclusivo e equitativo, defendendo os direitos de todas as pessoas, incluindo os Povos Indígenas e membros das comunidades locais, e promovendo a igualdade de gênero e a participação de todas as partes interessadas.” Após cinco anos sem consenso, o Grupo de Trabalho de Agricultura conseguiu aprovar uma declaração ministerial que também se compromete com a criação de “políticas agrícolas para pequenos agricultores, povos indígenas, mulheres e jovens, integrando novas tecnologias e conhecimento tradicional para enfrentar os desafios da agricultura moderna”.

Mas, a exemplo do presidente Lula, a participação de mulheres em postos de decisão foi a linha principal de debate no evento paralelo “Trilha de Finanças do G20 e Mulheres: a busca pela igualdade e empoderamento das mulheres na construção de um mundo justo e um planeta sustentável”, iniciativa da Trilha de Finanças e o Grupo de Trabalho de Empoderamento de Mulheres.

De acordo com a pesquisa Gender Equality at IFIs, do Center for Global Development (2024), mulheres são apenas 35% em cargos de alta gestão nos organismos financeiros internacionais.

No Banco Mundial, a representação feminina em cargos de gestão de topo caiu de 44% em 2022 para 22% em 2023. Embora os bancos multilaterais de desenvolvimento tenham alcançado ou excedido a paridade de gênero a níveis profissionais e não gerenciais, as mulheres ainda enfrentam dificuldades na promoção para cargos de gestão.

Em evento paralelo promovido pelo grupo de engajamento Think Tank 20, também foi reforçado o papel fundamental de bancos e organizações financeiras no fomento à inclusão econômica da população afrodescendente, especialmente de mulheres negras.

Um exemplo apresentado foi a estratégia de gênero do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). “Nossas estratégias nos guiam a enxergar a igualdade de gênero como uma economia inteligente”, afirmou a pesquisadora-chefe de Parcerias, Políticas e Mobilização de Recursos, Cynthia Liliane Kamikazi.

Para Ana Fontes, Chair do W20 (Mulheres 20, em inglês), as mulheres negras são as que sofrem um maior impacto pela falta de acesso ao crédito. “A gente sabe o quão importante, para a mulher, é ter dinheiro na mesa, o quão importante é ela poder gerar o próprio recurso financeiro. Mas fazer isso sem apoio, sem estrutura, não é algo que a gente consiga”. Outro grupo de engajamento que pautou a participação de mulheres no mês de setembro foi o Business20 (Negócios 20, em inglês).

Em evento paralelo à reunião ministerial do Grupo de Trabalho de Economia Digital, o B20 entregou um documento para representantes da Índia, Brasil e África do Sul em que apontam a necessidade da participação de mulheres no desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial. “A IA não é apenas um motor do crescimento econômico, mas uma ferramenta poderosa para lidar com desafios globais como mudanças climáticas e sustentabilidade ambiental. Atingir essas metas requer tecnologias de IA inclusivas que respeitem as necessidades e percepções de todas as pessoas, especialmente mulheres e meninas”, ponderou Kamila Camilo, diretora executiva do Instituto Oyá e representante do grupo de engajamento W20 (Women 20).

O que vem por aí

Em outubro ocorrerá a última reunião técnica do Grupo de Trabalho de Empoderamento de Mulheres, seguida da primeira reunião ministerial da história do GT, entre os dias 8 e 11.  

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